O SURGIMENTO DO IMPÉRIO OTOMANO - 4

 Por R. "Hussein" Silva


O Sultanato Seljúcida de Rum e seus Inimigos


Steven Runciman, um dos maiores bizantinistas do século XX, ao descrever no capítulo 2 de seu livro sobre o final do Império Bizantino como o Império Otomano surgiu, ele nos dá uma descrição muito boa do projeto de colonização das novas áreas tomadas pelos seljúcidas na Anatólia [14]. A partir desse momento aqui será praticamente um resumo desse livro de Runciman.

Apesar de entrarem facilmente nas cidades bizantinas e chegar até Nicéia, a pocos kilometros de Constantinopla, essa situação não duraria muito. Havia poucos muçulmanos e turcos nas cidades invadidas, apenas pessoas da guarda dos seljúcidas, que tentaram assimilar a população local. Porém isso acabou sendo um fracasso em várias cidades, ocasionando intrigas e traições, tanto que a corte seljúcida na Anatólia se mudou para Konya (antiga Iconium) e ali permaneceu. Quando Aleixo I Komnenos (1056 – 1118) se tornou o imperador bizantino em 1081 ele começou uma série de reformas políticas, e uma delas foi no exército que foi reorganizado e essa importante operação fez com que seu exército, junto aos fatores já citados, entre 1097 e 1099 tomasse de volta várias cidades como Nicéia, Rodes, Esmirna, Éfeso, Filadélfia e Sardes, dominando quase todo o litoral sul e norte e a parte ocidental da Anatólia, deixando o Sultanato Seljúcida de Rum expremido no centro da Anatólia. Mas em 1099 começaria um período duro tanto para Bizantinos como Seljúcidas, era o início das Cruzadas.

Os muçulmanos foram humilhados com a perda de Jerusalém em 1099, e os bizantinos com a traição dos ocidentais a proclamar reinos independentes na costa palestina após jurarem lealdade a Bizâncio. O foco dos muçulmanos mudou, porém a situação estava complicada, já que os muçulmanos estavam bastante divididos, no Egito o Califado Fatimída, xiita, dominava; no Iraque os abássidas; na Pérsia os seljúcidas e sua luta contra o principado de Alamut; em Damasco os zengidas faziam frente aos reinos cruzados e aos seljúcidas; e na Anatólia os seljúcidas de Rum lutavam contra os bizantinos, além de todos se reinvindicarem para si a autoridade sob os muçulmanos. Foi preciso um general de Nur al-Din (1118 – 1174), governante zengida, chamado Salah al-Din Ayyub (1137 – 1193) destituir o último califa fatimida em 1171 e tomar Damasco Alepo e Mossul em 1174, para juntar um grande exército e partir para tomar Jerusalém das mãos dos cruzados em 1187 um ano após declarar-se sultão do Egito formando a Dinastia Ayyubida.

Apesar dessas vitórias, o mundo muçulmano continuou bastante dividido, apesar de que nesse momento os únicos que se declaravam califas eram os abássidas. Mas em abril de 1204 veio o golpe mais duro para os bizantinos, a tomada de Constantinopla pelos cruzados e a formação do Império Latino de Constantinopla, que duraria até 1261 [15]. Nesse momento as tribos turcas oghuzes serviam principalmente aos seljúcidas na Pérsia, porém havia várias tribos deles espalhadas por todo o mundo muçulmano. E nesse momento apareceu um pesadelo a sua frente, os mongóis.


Os Mongóis Enfrentam os Seljúcidas


Em 1162 nascia na região onde hoje é a Mongólia um garoto chamado Temudjin. Na época a Ásia Oriental era dividida em vários pequenos reinos, e os mongóis vagavam como nômades nas estepes [16]. Após assumir a liderança de seu clã por volta de 1180 esse jovem começou a fazer algo que outros líderes mongóis não tinham feito até então, unificar as tribos, seja através de guerras ou casamentos. Após um tempo preso na China, Temudjin começou a pregar que a Mongólia devia se unir contra seus inimigos, e se unificar e cada vez mais líderes mongóis aceitavam seu chamado, e finalmente em 1206 uma assembléia reunindo praticamente todos os líderes mongóis proclamou Temudjin, agora com 45 anos, o “Gengis Khan” (Líder Supremo) dos mongóis [17].



A partir desse momento, Gengis Khan não apenas passou a invadir outros reinos, mas a devasta-los. Os mongóis eram extremamente violentos, usando aviolência como arma de guerra contra seus inimigos. Após dominar a China, incluso aprendendo a lutar contra fortalezas, pois até então os mongóis só sabiam lutar nas estepes, Gengis Khan após enviar parte de seu exército para a Rússia, ele teve seus primeiros desentendimentos com os muçulmanos no ano de 1218 quando o líder do Império Corásmio na Pérsia cortou a cabeça de um mongol enviado em missão diplomática a ele naquele ano e a enviou a Gengis Khan. O líder mongol então reuniu um grande exército e marchou para a Pérsia, cercando e destruíndo várias cidades em seu caminho, como Bucara e Samarcanda e posicionando seu exército na porta dos abássidas.

Gengis Khan morreu em 1227, e seu filho e sucessor, Ogedai Khan (1185 – 1241) continuou a expanção que o pai havia começado, usando as mesmas táticas de guerra implacáveis. Em 1243 finalmente os mongóis enfrentaram pela primeira vez os seljúcidas na Batalha de Kose Dag [18] apesar de que alguns mongóis já vinham atacando a Anatólia alguns anos antes. Porém, pouco antes disso o sultão Ala al-Din Kayqubad I (1190 – 1237) começou a convocar as tribos turcas a se unirem a ele. O Sultanato de Rum precisava de guerreiros para lutar contra os bizantinos e explorar seu território, e para isso eles chamavam os turcos já que os mesmos fugiam da invasão mongol, que devastava o oriente. Os turcos conheciam as histórias dos massacres, e foram buscar ajudas de outros reinos, e a oferta dos seljúcidas da Anatólia caiu como uma luva.

Kayqubad I dava aos líderes das tribos o título de Ghazi (soldado do islam) e lhes davam a função de proteger as fronteiras contra os inimigos e explorar a terra e em troca ofereciam aos Bey (líderes das tribos) terras para fixarem suas famílias, ou seja, o tão conhecido sistema de suserania e vassalagem da Idade Média. Das muitas tribos dos oghuzes que aceitaram essa oferta a mais importante aqui para nós é a tribo Kayi. 


BIBLIOGRAFIA


[14] RUNCIMAN, Steven. La Caída de Constantinopla. Epublibre. 2015. (Texto original em inglês de 1965). Pág. 24.

[15] Idem 14, pág. 27.

[16] ESPADA, Antonio Garcia. El Imperio Mongol. Madri: Editoral Síntesis. 2017. Pág. 24.

[17] Idem 16, pág. 30.

[18] Idem 14, pág. 28.



Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

PERSONAGENS REAIS DE KURULUS OSMAN

KURULUS OSMAN – UMA ANÁLISE

O HAMAS FOI CRIADO POR ISRAEL?