A QUEDA DO IMPERIO SELJUCIDA – Parte 1

A QUEDA DO IMPÉRIO SELJÚCIDA – Parte 1



Por: R. Hussein Silva


O Grande Império Seljúcida, fundado em 1037 por Tughril Beg (990–1063) e seu irmão Chaghri Beg (989–1060), viveu seu auge entre os anos 1071 e 1092 com os governos de Alp Arslan (1029–1072) e seu filho Melik Shah I (1055–1092), porém após esse lutas pelo poder tomaram conta do Império, e a instabilidade do poder central, somado a outros problemas internos e externos levou a queda do segundo maior império turco já existente, o Grande Império Seljúcida, e são esses fatores que discutiremos aqui.

A década de 1090 era um barril de pólvora prestes a estourar. A conquista de Alp Arslan de grande parte da Anatólia Bizantina em 1071 não foi nada bem vista pelos ocidentais e mesmo por muitos dos inimigos muçulmanos do império. O imperador bizantino Aleixo I (1056–1118), que assumiu o trono em 1081 após uma série de imperadores fracos que vieram após a derrota, não estava a fim de aceitar a derrota. Outro cristão que estava furioso era o próprio Papa Urbano II (1042–1099) que via a passagem para a terra santa controlada pelos turcos como um empecilho, tanto para a passagem de cristãos como para o próprio comércio.

As suspeitas de Urbano não eram tão infundadas, até 1078 realmente alguns muçulmanos atacavam implacavelmente quem atravessasse o deserto, era a seita dos xiitas ismaelitas qarmatianos [1]. Apesar da seita não existir mais nos idos de 1090, muitos ex-qarmatianos se tornaram ismaelitas nizaris ou mustalis, e isso acarretou para ainda mais divisões que falaremos mais a frente. Por isso, apesar do medo de Urbano dos muçulmanos atacarem os cristãos que iam para a terra santa, era mais comum os muçulmanos atacarem os próprios muçulmanos, pois os mesmos estavam bastante divididos, era o momento perfeito para um ataque cristão.

Depois que Melik Shah I morreu em 1092 sua esposa Terken Hatum se aproveitou que estava em Bagdá, a capital abássida, para aclamar seu filho de apenas 5 anos, Mahmud I (1087 – 1094), como sultão, tendo ela como regente em nome do filho. Os abássidas eram aliados dos seljúcidas e os seljúcidas aceitavam a autoridade religiosa do califa abássida, e com a ajuda de seu eloqüente vizir, Taj ul-Mulk, ela conseguiu que um exército fosse enviado a Isfahan para capturar a cidade pois o filho mais velho de Melik Shah com sua primeira esposa, Berkyaruq (1079 – 1105), também foi aclamado sultão ali fazendo os emires do império ficaram divididos em quem davam seu apoio, sendo que os demais filhos de Melik Shah, Muhammad Tapar (1082 – 1118) e Ahmed Sanjar (1086 – 1157) deram seu apoio a Berkyaruq, porém a situação era bastante desconfortável visto que os dois filhos eram bastante jovens, Mahmud tinha 5 anos e Berkyaruq tinha 13 anos e claramente seus governos eram controlados por seus tutores.

Devido ao ataque podendo ser iminente, os apoiadores de Berkyaruq o enviaram para fora de Isfahan as escondidas e o coroaram sultão em Ray. Os exércitos dos dois pretendentes ao trono se encontram em Borujerd, perto de Hamadan. As forças de Barkiyaruq venceram e tomaram a capital Isfahan em 1093 e mandaram matar Terken e seu filho que foram assassinados pela família do vizir Nizam al-Mulk que havia sido assassinado anos antes pelos ismaelitas. Taj ul-Mulk também foi capturado após essa batalha, porém devido as proezas burocráticas de Taj ul-Mulk na época de seu pai, Barkiyaruq quis torná-lo seu vizir, porém a família de Nizam ul-Mulk estava sedento por vingança pela ajuda que Taj ul-Mulk deu para os ismaelitas que levou ao seu assassinato, assim eles garantiram a morte de Taj ul-Mulk em 12 de fevereiro de 1094.

Essa instabilidade no poder permitiram que os inimigos dos seljúcidas, internos ou externos, crescessem. Hassan Sabbah (1050 – 1124), líder dos xiitas ismaelitas dentro do Império Seljúcida [2], que era um dos inimigos dos seljúcidas, aproveitou esse momento para consolidar seu poder no Castelo de Alamute, conquistado por ele em 1090 e fortificar seus fida'i (soldados) fundando a Ordem dos Assassinos. Em 1094 Sabbah ganharia mais força rompendo com o Império Fatímida, a quem obedecia e se fortificando com outros castelos que iam sendo conquistados aos poucos dentro do território seljúcida. Nesse momento também os seljúcidas da Anatólia se separaram de vez do Grande Império Seljúcida. Eles já haviam tido um momento de independência após a morte de Alp Arslan, porém Melik Shah os havia submetido em 1086 quando prendeu Kilij Arslan (1079 – 1107), porém com a morte de Melik Shah em 1092 Kilij Arslan fugiu de Isfahan e foi para a Anatólia onde se proclamou sultão no mesmo ano, cravando de vez sua independência.

Barkiyaruq agora estabelecido no poder começou a enviar seu exército para lutar contra os kara-khanidas em suas fronteiras orientais, porém logo o império cairia novamente em guerra civil. Muhammad Tapar se rebelou contra o irmão por decisões ruins tomadas por esse, como a demissão do filho de Nizam ul-Mulk, Muayyid ul-Mulk (1051 – 1101), dos altos cargos de poder. Tapar capturou Ray em 1099 e expôs a vulnerabilidade do reino de Berkyaruq. No entanto, a guerra durante cinco anos continuou indecisa e mesmo com o apoio de Ahmed Sanjar (que desprezava Berkyaruq), Tapar não conseguiu derrotar seu rival. A autoridade de Berkyaruq continuou a enfraquecer e, em 1104, com sua economia estava escassa, e ele foi forçado a pedir a paz. Um tratado foi feito, reconhecendo tapar como governante do sul do Iraque, norte do Irã, Diyar Bakr, Mosul e Síria, enquanto Berkyaruq era reconhecido como governante do resto do Irã (incluindo Isfahan) e Bagdá. O tratado, entretanto, provavelmente não revelou as verdadeiras circunstâncias da situação. No ano seguinte, 1105, não havia mais moedas citando o nome de Berkyaruq nas terras islâmicas centrais indicando que ele não tinha mais autoridade em nenhum lugar. Berkyaruq morreu a caminho de Isfahan de tuberculose aos 25 anos de idade perto da cidade de Borujerd, e foi sucedido por seu filho Malik-Shah II em Bagdá porém logo Bagdá foi capturada por Tapar, que mandou matar Malik-Shah II e Tapar ficou sendo o único governante do império. Com isso o califa abássida se tornou um fantoche nas mãos dos seljúcidas.

Porém diante de tantas guerras e vácuos de poder, a situação no mundo islâmico estava complicada. Entre 1097 e 1099 o imperador bizantino Aleixo I retomou várias de suas cidades perdidas para os turcos, sendo as principais Nicéia, Esmirna, Éfeso, Filadélfia e Sardes, voltando a controlar todo o mar Egeu e penetrando bastante em território turco. Mas o golpe mais forte veio em 1099 quando um grupo de francos tomaram a cidade de Jerusalém dos turcos com anuência dos bizantinos e formaram ali um reino cruzado. Diversos muçulmanos expulsos foram para Damasco e Bagdá pedir abrigo e apoio, porém o mundo islâmico estava bastante dividido, sem um poder centralizador, e isso custaria caro para o império seljúcida.


Os governos de Tapar e Sanjar continuam na próxima parte.


REFERENCIAS


[1] http://estudosislamicos.blogspot.com/2019/03/a-seita-dos-qarmatianos.html

[2] Os ismaelitas recebiam ordens do califa egípcio, mesmo vivendo em outros lugares. Para saber mais vide: http://estudosislamicos.blogspot.com/2021/05/quem-sao-os-reais-batinis.html

Livros Complementares:

Os Assassinos, Uma Seita Radical no Islam; por Bernard Lewis;

Uma História das Cruzadas: Volume 1; por Steven Runciman;

Keys of Heaven: A History of Papacy; por Roger Collins.

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