O SURGIMENTO DO IMPÉRIO OTOMANO - 2

 Por: R. Hussein Silva

O Império Seljúcida


Como dito anteriormente, o Império Seljúcida começou com Tughril Beg, porém o império leva o nome de seu avô, Seljuq Beg (m. 1009), que por sua vez era filho de um importante nobre da Confederação Oguz. Apesar de não ter tido tanto poder como o pai, Seljuq liderou sua tribo dentro da Confederação Oguz, porém em algum momento da década de 970 sua tribo deixou a Confederação migrando para a cidade de Jand, localizada onde hoje é o norte do Uzbequistão. Jand já era uma cidade habitada por nômades anteriormente a sua chegada, e era um lugar para onde iam diversos muçulmanos religiosos, por isso ali Seljuq e sua tribo abraçaram a religião islâmica por volta de 985 e com isso acabaram por se tornarem aliados dos samânidas, ajudando esses a tomarem Bukhara. Seljuq morreu em Jand em 1009 e foi sucedido na liderança da tribo por seu filho mais velho, Mikail (m. 1020), que fez com que a tribo migrasse para Bukhara e se aliasse aos Kara-Khanidas.

Mikail teve dois filhos, que lhe sucederam o governaram a tribo juntos, Chegril (989 – 1060) e Tughril Beg. Pouco após a morte do pai os irmãos levaram a tribo para a frente de batalha para apoiar os Kara-Khanidas na luta contra os Ghaznavidas, porém foram derrotados e perderam a posse de Bukhara, entretanto o seu apoio aos Kara-Khanidas continuou até 1034, e em 1037 os dois irmãos finalmente derrotaram os Ghaznavidas e conquistaram as cidades de Merv (no atual Turcomenistão) e Nishapur (no noroeste do atual Irã) e ali naquele ano Tughril Beg se proclamou Sultão do Khorasan (nome da região), dando início ao Império Seljúcida [7].


Pouco tempo após a proclamação, seljúcidas e ghaznavidas voltariam a se encontrar em 1040 na batalha de Dandanaqan. Na época os ghaznavidas eram governados por Massud I (998 – 1040), o filho de Mahmud de Ghazni (971 – 1030) e quarto sultão da dinastia, porém a mesma estava em declínio após a morte de Mahmud, que fora seu sultão mais importante. O exército ghaznavida era bem maior que o seljúcida, alguns estudiosos contam que os ghaznavidas tinham 50 mil soldados, enquanto os seljúcidas apenas 16 mil [8], porém os seljúcidas foram vitoriosos, e garantiram o domínio dos mesmos na região do Khurasan persa. Em 1050 Tughril cercou Isfahan e no ano seguinte tomou a cidade fundando o Grande Império Seljúcida, dominando um território tão grande que suas fronteiras ocidentais eram próximas ao que hoje é a Armênia, e com isso, no caso, fazendo fronteira com o próprio Império Bizantino.

A primeira vez que bizantinos e seljúcidas se encontraram no campo de batalha foi em 1054, porém nesse momento a vitória foi dos gregos, que por mais alguns anos tiveram seu domínio na Anatólia. A luta contra os bizantinos pela extenção do novo território não teve como ser continuada pois no ano seguinte os seljúcidas foram ajudar o califa abássida al-Qaim (1001 – 1075) a lutar contra os buyidas, uma dinastia xiita que havia controlado o sul da Pérsia durante anos. A aliança foi reforçada com o casamento da irmã de Chegril, Arslan Khatun Khadija com al-Qaim em 1058, e com isso os seljúcidas ainda ajudariam os abássidas em algumas lutas contra o decadente Califado Fatimída.

Tughril morreu em 04 de setembro de 1063 em Rey (atual Irã) e seu sobrinho Suleiman, filho de Chegril, clamou ser seu sucessor, porém seu irmão Alp Arslan (1029 – 1072) não aceitou isso, e derrotou Suleiman e alguns de seus primos que se aliaram a ele, como Kutalmish, cujo filho será muito importante a frente, garantindo a côroa seljúcida sobre si em 27 de abril de 1064, apesar de que ele também já se clamava sultão desde a morte de Tughril. Com a paz assegurada após a derrota das facções rivais, já em 1066 Alp Arslan declarou que seu filho Malik Shah I (1055 – 1092) seria seu sucessor, porém após sua morte o império começara a declinar.

Porém o maior feito de Alp Arslan foi a retomada da luta que o tio iniciou contra os bizantinos, a fim de expandir seu império, e após algumas lutas contra os fatimídas na Síria, em 1068 Alp Arslan voltou a invadir a parte oriental do Império Bizantino. Na época os bizantinos eram governados por Romanos IV Diogenes (1030 – 1071), que fora um militar de berço, por isso o próprio imperador quis estar a frente do exército, e saiu de Constantinopla rumo a localidade de Manzikert (ou Malazgirt), a norte do Lago Van. O Império Bizantino não vivia o melhor momento de sua história, alguns anos antes, em 1054 havia ocorrido o Grande Cisma do Oriente, que separou a igreja ocidental (católica) da oriental (ortodoxa) bizantina [9], e isso retirou todo apoio que qualquer rei ocidental pudesse dar a Constantinopla, ou seja, se precisasse de ajuda ocidental o imperador bizantino deveria contratar mercenários. O imperador Constantino VIII, o último a mater a dinastia macedônica unificada, morreu no ano seguinte e a sua filha mais velha, Teodora, foi conclamada imperatriz, porém ela não se deu conta do número de inimigos que tinha na corte, e ao morrer repentinamente em agosto de 1056 aquele a quem ela havia dito que seria seu sucessor, Miguel VI, foi elevado ao poder, porém esse para piorar a situação favoreceu os burocratas ao invés dos militares, por isso seu governo durou apenas um ano, sendo destituído pelo velho líder militar Isaque I Comneno (1005 – 1059).

Isaque governou por três anos e ao morrer foi sucedido pelo também velho Constantino X Doucas (1006 – 1067) que o havia apoiado em sua conspiração. Constantino era muito impopular entre os militares, até mesmo por enfraquecer militarmente as suas fronteiras no oriente diante do avanço dos seljúcidas, tanto que os militares tentaram o assassinar em 1061, porém sem sucesso. Ele morreu em 1067 e sua esposa Eudóxia passou a governar como regente em nome de seus filhos. Porém em 1068 ela se casou com o líder militar Romanos, que se sagrou imperador como Romanos IV.

Apesar de ter o imperador a frente do exército, diante de tantas guerras cívis o exército se encontrava desestruturado e desunido e ao chegar em Manzikert em 1071 os bizantinos encontraram um exército menor que o seu, porém mais unido e mais organizado. O exército de Alp Arslan derrotou facilmente o exército de Romanos, fazendo não apenas com que os bizantinos fugissem da batalha como fez com que Romanos caísse prisioneiro de Alp Arslan. Enquanto uma revolta em Constantinopla destituía Romanos do poder, ele foi libertado por Alp Arslan e ao retornar para sua capital acabou sendo cegado e exilado em uma ilha, o que o fez morrer pouco tempo depois, em 1072. Com a vitória os seljúcidas puderam tomar várias cidades na Anatólia, incluso cidades importantes como Iconium e Cesaréia, encontrando pouquíssima resistência, porém Alp Arslan morreu em dezembro de 1072.


Malik Shah, ao contrário do pai, se viu enfraquecido diante das guerras por poder dentro do Império Seljúcida. Em 1075 ele nomeou seu primo Suleiman, o filho de Kutalmish, como governador das novas terras adquiridas na Anatólia, porém diante das dificuldades de seu primo manter o poder e em atitude de vingar o pai pela derrota para Alp Arslan, Suleiman se proclamou Sultão de Rum (dos Romanos, pois os turcos davam esse nome a Anatólia, já que ela pertencia aos bizantinos anteriormente).


Através do apoio de seu vizir persa Nizam al-Mulk, Malik conseguiu não apenas se assegurar no poder como expandir seu império na Pérsia. Porém após sua morte em 1092 o poder se dividiu e o império enfraqueceu até cair por completo em 1194, porém o Sultanato Seljúcida de Rum continuou a existir na Anatólia, e dele trataremos agora.


BIBLIOGRAFIA


[7] GROUSSET, Rene. The Empire of Steppes. Rutgers: Rutgers University Press. 1991.

[8] LAMBTON, Ann. Continuity and Change in Medieval Persia. Londres: Suny Press. 1988.

[9] GREGORY, Timothy. A History of Byzantium. Pittsburgh. 2010.





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