QUEM SÃO OS IBADIS?

O movimento Ibāḍī, Ibadismo ou Ibāḍiyya ou também conhecido como o Ibadis (em árabe: الاباضية, al-Ibāḍiyyah) é uma seita do Islam predominante em Omã e Zanzibar; os Ibāḍī's também são encontrados na Argélia, Tunísia, Líbia e na África Oriental. Diz-se que o movimento Ibāḍī foi fundado 20 anos após a morte do profeta Muhammad (saws), anterior mesmo às denominações sunitas e xiitas. Os historiadores e a maioria dos muçulmanos acreditam que a denominação é uma seita reformada do movimento Khawārij ou Khārijite [ver neste blog a postagem "Quem são os Kharijitas?"]; os Ibāḍīs, no entanto, negam qualquer coisa além de uma relação passageira com os Khawārij e apontam que eles simplesmente se desenvolveram a partir do mesmo grupo precursor.

Embora a estrita adesão dos ibadis aos assuntos públicos e privados da sharia tenha sido descrita como puritana, o caráter de sua denominação é considerado de moderação e tolerância em relação a outras visões da religião.

A escola deriva seu nome de Abdu l-Lāh ibn Ibāḍ dos Banu Tamim. Ibn Ibad foi responsável por romper com o amplo movimento Kharijite aproximadamente na época em que Abd al-Malik ibn Marwan, o quinto governante omíada, assumiu o poder. No entanto, o verdadeiro fundador foi Jabir ibn Zayd de Nizwa, Omã. Inicialmente, a teologia dos Ibadi's se desenvolveu em Basra, no Iraque. Os Ibadi's se opunham ao domínio do terceiro califa no Islam, Uthman ibn Affan, mas diferentemente dos Kharijitas mais extremos, os ibadis rejeitavam o assassinato de Uthman, assim como a crença Kharijita de que todos os muçulmanos que tinham pontos de vista diferente deles eram infiéis. Os ibadis estavam entre os grupos mais moderados que se opunham ao quarto califa, Ali, e queriam devolver o islamismo à sua forma anterior ao conflito entre Ali e Muawiyah I.

Devido à sua oposição ao califado omíada, os ibadis tentaram uma insurreição armada que começou na região de Hijaz durante o século VIII. O califa Marwan II liderou um exército de 4.000 homens e derrotou os ibadis primeiro em Meca, depois em Sana'a, no Iêmen, e finalmente os cercou em Shibam, no oeste do Hadramaute [atual Omã]. Problemas em sua sede na Síria forçaram os omíadas a assinarem um acordo de paz com os ibadis, e a seita foi autorizada a manter uma comunidade em Shibam pelos próximos quatro séculos.

Por um período após a morte de Marwan II, Jabir ibn Zayd manteve uma amizade com o general omíada Al-Hajjaj ibn Yusuf, que apoiou os ibadis como um contrapeso aos kharijitas mais extremos. Ibn Zayd ordenou o assassinato de um dos espiões de Al-Hajjaj e, em reação, muitos ibadis foram presos ou exilados no Omã.

Foi durante o século VIII que os Ibadis estabeleceram um imamato na região interior do Omã. A posição era eleita, ao contrário das dinastias sunitas e xiitas, onde o governo era herdado. Esses imãs exerceram funções políticas, espirituais e militares. Por volta do ano 900, o ibadismo se espalhou para o Sind [Índia], Khorosan [Pérsia], Hadramaute [oeste do Omã], Dhofar, Mascate, Montanhas Nafusa [Líbia] e Qeshm; e em 1200, a seita estava presente em Al-Andalus, na Sicília, em M'zab (o Saara argelino) e na parte ocidental da região do Sahel. Os últimos Ibadis de Shibam foram expulsos pela dinastia Sulayhid no século XII. No século XIV, o historiador Ibn Khaldun fez referência aos vestígios da influência de Ibadi em Hadramaute, embora a seita não exista mais na região naqueles dias.

Relações com Outras Comunidades

Os ibadis e suas crenças permanecem em grande parte um mistério para os estrangeiros - tanto os não-muçulmanos quanto os outros muçulmanos. Os Ibadis alegaram, com justificativa, que enquanto liam as obras de sunitas e xiitas, os eruditos dessas duas seitas nunca liam as obras Ibadi e freqüentemente repetiam mitos e informações falsas ao abordar o tópico do Ibadismo sem realizar pesquisas apropriadas. A natureza isolada de Omã concedeu à denominação Ibadi, secreta por natureza, o ambiente perfeito para se desenvolver isoladamente da corrente dominante islâmica. Ibadi's foram até mesmo retirados da seita Kharijita devido à crítica de Ibn Ibad de seus excessos e rejeição de suas crenças mais extremas. A disseminação do Ibadismo no Omã representa essencialmente o triunfo da teologia sobre o feudalismo e o conflito tribais.

Ibadis têm sido referidos como puritanos tolerantes ou como não-agentes políticos, devido à sua preferência em resolver as diferenças através da dignidade e da razão, e não com o confronto, assim como sua tolerância para conviver com cristãos e judeus compartilhando suas comunidades. Devido ao movimento do Ibadismo do Hijaz ir para o Iraque e depois para além, o historiador ibadi al-Salimi escreveu uma vez que o Ibadismo é um pássaro cujo ovo foi colocado em Medina, depois eclodiu em Basra e voou para Omã.

Visões

Os ibadis afirmam, com justiça, que sua escola é anterior à das principais escolas islâmicas, e o Ibadismo é, portanto, considerado uma interpretação precoce e altamente ortodoxa do Islã.
Os ibāḍīs têm várias diferenças doutrinárias com outras denominações do Islã, entre elas:

1 - Deus não se mostrará aos muçulmanos no Dia do Juízo, uma crença compartilhada com os xiitas. Os sunitas acreditam que os muçulmanos verão a Deus no Dia do Juízo.
2 - O Alcorão foi criado por Deus em um determinado momento. Essa crença é compartilhada com os Mutazila's, enquanto os Sunnis consideram o Alcorão a palavra de Deus, como exemplificado pelo sofrimento de Ahmad ibn Hanbal durante a miḥnah.
4 - Como os Mutazila's, eles interpretam referências antropomórficas a Deus no Alcorão simbolicamente ao invés de literalmente.
5 - Seus pontos de vista sobre a predestinação são como os Ashari Sunnis.
6 - Não é necessário ter um líder para todo o mundo muçulmano, e se nenhum líder é apto para o trabalho, então as comunidades muçulmanas podem governar a si mesmas. Isso é diferente tanto da crença sunita do califado quanto da crença xiita de Imamato.
7 - Não é necessário que o governante dos muçulmanos seja descendente da tribo Quraysh, que era a tribo do profeta muçulmano Muhammad (saws). Isso é diferente tanto dos xiitas quanto da maioria dos sunitas.
8 - Eles acreditam que é aceitável ocultar suas crenças sob certas circunstâncias (kitman). Essa doutrina é análoga à taqiyya xiita.

Visões na História Islâmica e no Califado

Os ibāḍīs concordam com sunitas em relação a Abu Bakr (ra) e Umar ibn al-Khatab (ra) como Califas bem guiados. Eles consideram a primeira metade do governo de Uthman ibn Affan (ra) como justo e a segunda metade como corrupto e afetada tanto pelo nepotismo quanto pela heresia. Eles aprovam a primeira parte do califado de Ali (ra) (como os xiitas) e desaprovam a rebelião de Aisha (ra) [Batalha do Camelo] e a revolta de Muawiyah. No entanto, eles consideram que a aceitação da arbitragem por parte de Ali na Batalha de Ṣiffīn o tornou impróprio para a liderança, e o condenam por matar os Khawarij na Batalha de Naharwān. Os teólogos modernos Ibadi's defendem a oposição khariita precoce a Uthman, Ali e Muawiyah. O explorador marroquino Ibn Battuta observou Ibadi's rezando Jumu'ah em Omã - que ele disse que eles oraram da mesma maneira que a oração de Zuhr - e notou que eles invocaram a misericórdia de Allah para Abu Bakr e Umar, mas não em Uthman e Ali.

Acreditam que o próximo califa legítimo era Abdullah ibn Wahb al-Rasibi, o líder dos Kharijitas que se voltaram contra Ali por sua arbitragem com Muawiyah. Todos os califas de Mu'āwīyah em diante são considerados tiranos, exceto Umar ibn Abd al-Aziz, sobre quem as opiniões divergem. Numerosos líderes Ibāḍī's são reconhecidos como verdadeiros imãs, incluindo Abdullāh ibn Yaḥyā al-Kindī da Arábia do Sul e os imãs da dinastia Rustamida no Norte da África. Tradicionalmente, o Ibadismo do Omã rejeitava a monarquia e o governo hereditário, já que os líderes dos Ibadhi eram eleitos. Apesar de amargas disputas religiosas em outros lugares, os ibadis são realistas e acreditam que a razão e a conveniência política devem moderar o estado ideal islâmico.

Visões dos Hadith's

Os ibaḍis aceitam como autênticos muito menos hadīth's do que os sunitas, e alguns dos aceitos pelos ibāḍīs são rejeitados pelos sunnis. A jurisprudência ibāḍī, naturalmente, é baseada apenas nos ḥadīth's aceitos pelos ibāḍīs. Várias das figuras fundadoras do Ibaḍismo foram notórias por suas pesquisa de hadith's, e Jābir ibn Zayd é aceito como um narrador confiável pelos estudiosos sunitas e também pelos ibāḍīs. Após a morte de Ibn Ibad, Ibn Zayd assumiu a liderança dos ibadis e retirou-se para o Omã, onde seus hadith's, juntamente com os de outros ibadis primitivos, formaram o corpus de sua interpretação da lei islâmica.

Visão da Jurisprudência

O fiqh ou jurisprudência de ibadis é relativamente simples. A autoridade absoluta é dada ao Alcorão e ao hadith; inovações aceitas com base em qiya's, ou raciocínio analógico, foram rejeitadas como bid'ah pelos ibadis. Eles diferem nisso da maioria dos sunitas, mas encontram concordância com a maioria dos xiitas, bem como com as escolas Zahiri e Hanbali do Sunismo.

Ibadi's Notáveis

1 - Sulaiman al-Barouni, wali [governador] da Tripolitania.
2 - Ahmed bin Hamad al-Khalili, atual Grande Mufti do Omã.
3 - Qaboos bin Said al Said, Sultão do Omã.
4 - Nouri Abusahmain, presidente do Congresso Geral Nacional e atual presidente da Líbia.
5 - Moufdi Zakaria, poeta, escritor e nacionalista, autor do Hino Nacional da Argélia.

Traduzido de: http://www.civicegypt.org/?p=58870





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