QUEM SÃO OS DAWOODI BOHRAS
Por: R. Hussein
O xiismo nunca conseguiu manter
uma unidade sobre quem seria o Imam (sucessor religioso do Profeta
Muhammad (saws)), e por acreditar que o imamato sempre recai sobre um
descendente do profeta (saws), aconteceu como em várias
monarquias, ou seja, acabou se dividindo na interpretação
de quem deveria ser esse sucessor. Assim, a primeira divisão
já se dá com a descendência de Ali Zainul Abedin
(as), filho de Hussein (as) e assim neto de Fátima (as), a
filha de Muhammad (saws). O imamato sempre recai sobre o filho mais
velho, porém o filho mais velho de Zainul Abedin (as) chamado
de Muhammad al-Baqer (as) não se envolveu com política,
por isso alguns xiitas apoiaram outro filho de Zainul Abedin (as)
como seu sucessor, Zaid (ra), que lutou contra o califado omíada,
esses xiitas ficaram conhecidos como zaiditas. Surgiram várias
outras divisões, desde mais extremistas, que acreditavam que
os imames eram a encarnação de Deus, até mais
moderados, como é o caso dos xiitas dos doze, que apenas
acreditam que os imames são infalíveis. Porém
aqui vamos nos concentrar no sexto imam, Jaffar as-Sadeq (as), o
filho de Muhammad al-Baqer (as).
Jaffar (as), assim como seus
antecessores, designou seu filho mais velho para o imamato, Ismail
(ra), porém esse acabou por morrer antes do pai, assim a
maioria dos xiitas se reuniram em volta de seu outro filho, Mussa
al-Kadhim (as), porém alguns poucos acreditavam que, como a
sucessão deveria cair sobre o filho mais velho, então o
filho mais velho de Ismail (as), chamado Muhammad al-Maktun (ra)
deveria sucede-lo, esses ficaram conhecidos como xiitas ismaelitas
(tal como já descrito no artigo anterior, sobre os
qarmatianos).
Os Dawoodi Bohras são um
desses ramos dos xiitas ismaelitas. A maior parte dos Dawoodi Bohras
residem na Índia, Paquistão, Iêmen, África
Oriental e Oriente Médio. Há também números
significativos que vivem na Europa, América do Norte, Sudeste
Asiático e Austrália. A maioria das fontes coloca a
população mundial em cerca de um milhão. Os
Dawoodi Bohra são descendentes do xiismo propagado pelo
imamato Fatímida no Egito medieval. Eles rezam três
vezes por dia, juntando as orações da zuhr (meio dia)
com a do asr (tarde), e depois as orações do maghrib
(por do sol) e isha (noite). Eles jejuam no mês do Ramadan,
fazem o Hajj (peregrinação a Meca) e dão o Zakat
(tributo).
Em todos os assuntos, seja de oração,
vestuário, comportamento físico e até mesmo
evitar interesses financeiros, eles são altamente
conservadores. Ao mesmo tempo, eles adotam avidamente aspectos da
cultura moderna ou ocidental que não são
especificamente proibidos. Longe de mostrar as atitudes
antiocidentais por vezes encontradas entre outros grupos, os Bohras
enviam orgulhosamente seus filhos à Grã-Bretanha ou aos
Estados Unidos para educação, exibem maior igualdade de
gênero do que a maioria das comunidades do subcontinente
indiano e tornaram-se pioneiros da Internet unindo membros de seus
países distantes.
História
Os Dawoodi Bohras são uma
seita da seita dos Mustal'i Tayyabi, que por sua vez são uma
das seitas do ismaelismo. Os Mustal'i são aqueles que, durante
o Califado Fatimída (909 – 1171) aceitaram al-Mustal'i (1074
– 1101) como o legítimo sucessor de seu pai, al-Mustansir
(1029 – 1094), ao contrário do outro grupo, afastado do
poder que acreditavam em outro líder, sendo que esse outro
grupo daria orígem aos nizaris. Depois surgiu uma outra
divisão, sobre quem seria o califa (e imam) e a maioria se
reuniu em torno de al-Tayyabi (1101 – 1030), o último califa
fatimída. Com a saída de al-Tayyabi do trono fatimída,
ele e e seus xiitas se mudaram para o Iêmen, porém lá
ele se aliou a rainha mas morreu, fazendo
com que os seus xiitas acreditassem em sua ocultação
(acreditam que ele esteja vivo até hoje e apenas o Dai tem
contato com ele e que retornará como o líder junto com
Jesus (as)). A rainha do Iêmen assim ungiu um Dai al-Mutlaq
(vice-regente) para al-Tayyabi, que no caso era seu filho, que seria
o único a ter contato com ele, mas que principalmente
liderariam a comunidade xiita, e os Dai seguintes seriam seus filhos.
A linha do Da'is no Iêmen continuou até
o 24o Dai, Yusuf Najmuddin ibn Sulaiman (cerca de 1510 – 1567), e seu sucessor levaram os mesmos para a Índia,
após a conversão de um rei local a causa dos Tayyabi.
Em 1592, os Taiyabi dividiram-se em duas facções em uma
disputa sobre quem deveria se tornar o 27o Da'i: Dawood Bin Qutubshah
ou Sulayman bin Hassan. Os seguidores do primeiro, principalmente na
Índia, tornaram-se os Dawoodi Bohra, os últimos, os
Sulaymani Bohras. Em 1637, os Alavi Bohra se separaram da
comunidade dos Dawoodi Bohra (futuramente falaremos sobre os Alavi).
Crenças:
Os Dawoodi Bohras acreditam que o
islam tem 7 pilares, e não 5 como os demais muçulmanos,
acrescentando a eles a Willayah (voto de apoio ao Dai al-Mutlaq) e a
Tahara (pureza). De acordo com os mesmos, a Willayah é o mais
importante dos 7 pilares, já que o Dai al-Mutlaq representa o
Imam. Seu atual Dai é Muffadal saiffudin, que é o 53o
na linha de sucessão.
O Islam proíbe a Riba
(Usura) e os juros, assim os Dawoodi Bohras seguem o princípio
de Qardhan Hasana (empréstimos sem juros). Numerosos esquemas
de fundos Qardhan Hasana foram estabelecidos, muitos trabalhando no
nível de jamaat (reunião) local e outros trabalhando em
nível nacional em vários países. Os fundos são
gerados a partir de contribuições de membros
individuais, mas a maior parte vem do Da'i-al-Mutlaq. (Em 2014,
Mufaddal Saifuddin doou mais de 1,035 milhão de dólares).
O rito central de passagem para os
Bohras é mithaq, o único ritual importante exclusivo da
denominação. Esta cerimônia, obrigatória
para cada Bohra que deseja fazer parte da comunidade, é uma
aliança entre o crente e Deus, efetuada através de seu
wali (guardião). Além de esclarecer os deveres que um
crente deve a Allah, inclui um juramento de lealdade: um voto de
aceitar a orientação espiritual do Dai de todo o
coração. O juramento do mithaq é tomado pela
primeira vez em qualquer idade em que uma criança é
considerada como tendo atingido a maturidade: mais comumente, treze
anos para meninas, catorze ou quinze para meninos. Durante a
puberdade precoce, uma criança será trazida por seus
pais para uma entrevista com o amil (líder) local. O amil
pergunta ao jovem uma série de perguntas sobre a fé dos
Bohra e, somente depois de fornecer respostas adequadas, a criança
será aceita ao mithaq. No décimo oitavo dia do mês
islâmico de zul-Hajj, toda congregação dos Bohra
renovam seus votos de mithaq juntos. A cerimônia ocorre nesta
data porque (na tradição xiita que se mantém)
foi no décimo oitavo dia do zul-Hajj no ano 23 d.H que o
Profeta Muhammad (saws) designou seu genro Ali (as)como seu sucessor
e ele recebeu o juramento de mithaq de 70.000 muçulmanos em
Ghadir Khumm.
Os Dawoodi Bohra praticam a
circuncisão ritual em meninos e meninas. Eles chamam a
circuncisão feminina de khatna, khafd e khafz. O procedimento
é na maior parte realizado, sem anestesia, por um
circuncidador tradicional quando as meninas atingem seu sétimo
ano. Mulheres não-Bohra que procuram se casar com a comunidade
também são obrigadas a se submeter a ela. Não há
estudos autorizados sobre a extensão da prática entre
os Bohra.
Bibliografia
História do Ismaelismo, por
Muntaz Ali Tajjdin.
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