A VIDA DO IMAM ABU HANIFA
Por F. Al-Khatib
O Imam Abu Hanifa acreditava
firmemente que um código de leis não pode ficar
estático por muito tempo, com o risco de não mais
atender às necessidades do povo. Assim, ele defendeu a
interpretação das fontes da lei islâmica (usul
al-fiqh) como resposta às necessidades das pessoas na época.
Essa forma dinâmica de legalismo não substituiu o
Alcorão e a Sunnah (ditos e feitos do Profeta(saws)), é
claro. Em vez disso, ele promoveu o uso do Alcorão e da Sunnah
para derivar leis que abordassem as questões com as quais as
pessoas lidavam naquele momento.
Numerosas vezes durante toda a sua
vida posterior, Abu Hanifa recebeu uma posição como
juiz principal na cidade de Kufa. Ele consistentemente recusou tais
nomeações e, portanto, encontrou-se regularmente preso
tanto pelas autoridades omíadas quanto depois pelas abássidas.
Ele morreu no ano 767 enquanto estava na prisão.
A compreensão das leis e do
código de conduta do Islã é algo que tem
evoluído constantemente ao longo da história islâmica.
As primeiras gerações de muçulmanos depois do
Profeta (saws) tiveram um momento muito mais fácil de entender
o que se espera deles como muçulmanos porque tiveram acesso
aos Sahaba's, os companheiros do Profeta (saws). Como a história
progrediu, no entanto, surgiu a necessidade de codificar as leis
islâmicas em códigos de lei organizados e fáceis
de se acessar.
A primeira pessoa que empreendeu
esta tarefa monumental foi o grande erudito Imam Abu Hanifa. Através
de seus esforços, desenvolveu-se a primeira escola de fiqh
(jurisprudência islâmica), a escola Hanafi. Hoje, a
escola Hanafi é a maior e mais influente entre as quatro
escolas (madhabs) de fiqh.
Infância
e Educação
O nome [real] de Abu Hanifa foi
Nu'man Ibn Thabit. Ele nasceu em 699 na cidade iraquiana de Kufa,
numa família de origem persa. Seu pai, Thabit, era um homem de
negócios de sucesso em Kufa e, assim, o jovem Abu Hanifa
pretendia seguir os passos de seu pai. Vivendo sob o opressivo
reinado do governador do Iraque, al-Hajjaj Ibn Yusuf, Abu Hanifa
manteve o foco em administrar os negócios de fabricação
de seda da família e, em geral, evitou a erudição.
Com a morte de al-Hajjaj, em 713, ocorreu a remoção de
políticas opressivas em relação aos estudiosos,
e a erudição islâmica aumentou em Kufa,
especialmente durante o reinado de Umar Ibn Abd al-Aziz (717-720).
Assim, em sua adolescência,
Abu Hanifa começou a estudar com alguns dos estudiosos
residentes em Kufa. Ele ainda teve a oportunidade de se encontrar com
cerca de oito a dez companheiros do Profeta Muhammad (saws), entre
eles Anas Ibn Malik, Sahl Ibn Sa'd e Jabir Ibn Abdullah. Depois de
aprender com alguns dos maiores estudiosos de Kufa, ele passou a
estudar em Meca e Medina sob vários professores, [dentre
estes] Ata Ibn Abu Rabah, que era conhecido como um dos maiores
estudiosos de Meca na época.
Ele logo se tornou um especialista
nas ciências de fiqh (jurisprudência), tafsir (exegese do
Alcorão) e kalam (buscando conhecimento teológico
através do debate e da razão). De fato, o conceito de
usar o debate e a lógica tornou-se uma pedra angular de sua
metodologia para buscar leis islâmicas.
Sua
Escola de Fiqh
Um aspecto importante de sua
metodologia foi o uso do debate para derivar decisões. Ele
normalmente colocaria uma questão legal para um grupo de cerca
de 40 de seus alunos, e os desafiaria a chegar a uma decisão
baseada no Alcorão e na Sunnah. Na primeira tentativa, os
estudantes tentariam encontrar a solução no Alcorão,
se não fosse claramente respondida no Alcorão, eles se
voltariam para a Sunnah, e se ela não estivesse lá,
eles usariam a razão para encontrar uma solução
lógica.
Abu Hanifa baseou essa metodologia
no exemplo em que o Profeta Muhammad (saws) enviou Mu'adh Ibn Jabal
ao Iêmen e perguntou-lhe como resolveria os problemas usando a
lei islâmica. Mu'adh respondeu que ele examinaria o Alcorão,
depois a Sunnah, e se ele não encontrasse uma solução
direta ali, usaria seu melhor julgamento, uma resposta com a qual
Muhammad (saws) ficou satisfeito.
Usando esse processo para
codificação de fiqh, fundou-se a madhab Hanafi (escola
de jurisprudência), baseada nas decisões do Imam Abu
Hanifa e seus proeminentes estudantes, Abu Yusuf, Muhammad
Al-Shaybani e Zuffar.
Seu
Legado
Um masjid [mesquita] foi
construída em sua honra em Bagdá anos depois, e foi
renovada no período otomano pelo monumental arquiteto Mimar
Sinan.
Sua escola de Fiqh tornou-se muito
popular no mundo muçulmano não muito depois de sua
morte. Como a madhab oficial dos Impérios Abássidas,
Mughal e Otomano, sua escola se tornou muito influente em todo o
mundo muçulmano. Hoje, é muito popular na Turquia, na
Síria, no Iraque, nos Bálcãs, no Egito e no
subcontinente indiano.
Bibliografia
Khan,
Muhammad. The Muslim
100. Leicestershire, United Kingdom: Kube Publishing Ltd,
2008. Print.
Sabiq,
A. Fiqh us-sunnah at
tahara and as-salah. 1. Indiana: American Trust
Publications, 1991. Print.
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